terça-feira, 7 de abril de 2009

O encontro dos encontros e conexões

Guga Dorea e Luiz de Campos
Publicado originalmente no Boletim Românticos Conspiradores SP, nº 7, abril/2009.


“Eu nunca me senti tão preocupado e tão responsável quanto hoje, ao fim de quase 58 anos de vida, e isto para dizer que aqui hoje está reunida gente [...] da maior generosidade - e está ausente gente da maior generosidade. [Pessoas] da maior capacidade para mudar a vida, sua e a dos outros. E corremos o risco de sairmos daqui amanhã com ímpeto para fazer coisas, ou sairmos daqui amanhã começando a desaparecer...”

A fala do Pacheco acima, que praticamente abriu o 1º Encontro Nacional da Rede Românticos Conspiradores, parece revelar, com muita clareza, duas possibilidades reais. Não acreditamos que a segunda opção possa se transformar em realidade, mas a primeira é uma questão decisiva. O que realmente podem os Românticos Conspiradores? Só descobriremos a resposta a essa pergunta no caminhar de nosso caminho.

O que ficou, em um primeiro instante, é que novos encontros foram se delineando nesses dois dias, revelando uma alegria e entusiasmo muito grande de troca de experiências, sejam elas profissionais ou mesmo pessoais. Pessoas se olharam, se manifestaram, conversaram, dançaram, participaram de jogos. Em uma sociedade onde a tendência é de cada um olhar para si mesmo, o outro foi levado em consideração. Importando menos o que esse outro fez ou deixou de fazer, ele existiu, revelando a existência de pessoas e de um coletivo, parafraseando o Pacheco, “querendo mudar a si mesmo e ao mundo”.

Quanto à realmente sair com o ímpeto de agir, só o tempo dirá. Este artigo não pretende ser uma síntese completa e isenta do que foi o encontro. Talvez isso nem seja necessário. Serão apenas impressões para serem compartilhadas e, quem sabe na seqüência, acrescidas de outras impressões, de outros olhares.

Na fala de abertura, o Pacheco colocou várias questões importantes. Ele afirmou, logo no início, que não falaria nada de novo, que tudo já foi dito. Que é preciso, agora, fazer. No entanto, não se trata de reproduzir o já feito, chegando a dizer textualmente: “Eu quero que a [Escola da] Ponte morra!” *. O que isso quer dizer?

Certamente, não podemos interpretar essa frase de uma forma literal e sim, como ele próprio já afirmou em outras ocasiões, nenhum projeto pode ser “clone” de outros projetos realizados em contextos distintos, em tempos distintos. O Pacheco apontou alguns caminhos, possíveis metas que já vinham sendo discutidas nos diversos núcleos RCs. Esses caminhos foram debatidos no segundo dia, e voltaremos a eles mais adiante.

Depois da fala de abertura do Pacheco vieram os depoimentos referentes à realidade atual de cada núcleo. A cada novo núcleo, a cada nova fala, foi se revelando a diversidade de pessoas, pensamentos e formas de agir que compõem este coletivo de Românticos Conspiradores.

Maria (Curitiba), Beto (Valinhos), Helena (Floripa) e Leila (Niterói).

São Paulo descreveu a dinâmica de estruturação e organização do núcleo, além de falar sobre um tema de grande importância para o grupo: a questão da inclusão enquanto reveladora da necessidade de mudar a estrutura tradicional da escola, histórica e culturalmente criada para lidar com uma fictícia homogeneização e não com o heterogênio. Foi falado ainda sobre o nosso suado Informativo nº. 6, que nele pode ser encontrado um pouco do dia-a-dia do núcleo SP, suas ações no cotidiano e seus desejos, incluindo todo o processo da construção da sua carta de princípios, além da criação de um blog e de um grupo virtual de discussão. São Paulo conta hoje com 150 integrantes, realizou 11 encontros presenciais em um ano, contando com a participação de 15 a 20 pessoas por reunião, a maioria educadores.

As participantes de Bauru (a “cesta de frutas”), que tem seu foco em experiências sensitivas e artísticas, optaram por fazer uma performance com canto para apresentar o núcleo. O núcleo de BH - Apoena (“aquele que enxerga longe”), onde o Pacheco atuará a partir de agora, compõe-se de um fórum com órgãos do governo, a Academia de Polícia, universidades, ONGs, escolas, empresários e médicos. Tem por objetivo trabalhar na direção de uma cidade educadora. As reuniões do núcleo Curitiba contam com as presenças de 7 a 10 pessoas, em lugares como SESI, Hospital Pequeno Príncipe, entre outros. Promoveram também eventos de leitura em praças públicas.

No núcleo Florianópolis participam cerca de 10 pessoas nos seus encontros mensais em uma escola pública. Entre seus integrantes, conta-se uma ONG que faz formação de professores em educação ambiental e uma escola indígena. Porto Alegre possui 43 membros no núcleo e os encontros aconteceram em escolas municipais e particulares, na UFRGS e em secretarias municipais de educação do interior. Natal realizou cerca de 5 encontros, articulam, basicamente, duas escolas particulares e o Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que realiza projetos de leitura em 79 escolas públicas. O núcleo Rio de Janeiro se reuniu presencialmente cerca de 7 vezes e dentre as organizações mais presentes estão a empresa Moleque de Idéias, focando suas atividades na tecnologia digital em educação, além do Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II, que pertence à Rede Federal de Ensino. Discutem ainda a filosofia da educação libertária.

Ainda no sábado, à tarde, os participantes se dividiram em três grupos de discussão: "interligação de diversas áreas, cidades educadoras e comunidade educativa"; "o que é educação para nós e que tipo de educação queremos”; "carta de princípios" e "formas inovadoras de educação". Estes grupos proporcionaram boas oportunidades para diálogos, trocas e interações entre os participantes, com espaço para falar sobre suas atuações, projetos, formas de pensar a educação, além de brincadeiras! As discussões foram socializadas em plenária no fim da tarde, onde também foi debatida a organização da discussão de metas e encaminhamentos do dia seguinte.


Tatiane, Bruna, Erika e Fernanda e as oferendas do núcleo Bauru.


No sábado, ainda merece destaque a “caminhada cultural noturna pelo centro de São Paulo”, momento de interação e vivência entre os mais de 20 conspiradores que participaram. Com o tema “educação”, o passeio foi acompanhado pelo Carlos, promotor do evento, e pelo guia Laércio. Os participantes foram ainda presenteados com a performance de um poeta nas colunas do Centro Cultural Maria Antônia, além da declamação de Fernando Pessoa pela Carla em frente à Escola de Sociologia e Política e intervenções do Luiz de Campos de fronte ao Colégio Caetano de Campos e sobre o Vale do Anhangabaú. A Suely organizou o grupo para uma sessão de canto das trovas dos estudantes de direito, em frente aos arcos da “velha academia” do Largo de São Francisco. O passeio foi uma ótima experiência para os participantes, terminando com o jantar tipicamente paulistano: pizzas no Edifício Copan.

Brincadeiras promovidas pelo Beto no seu grupo de discussão.

No domingo o tempo foi mais curto e nos centramos em tomadas de decisões sobre possíveis metas para seguirmos adiante. Na prática, ficaram mais intenções do que metas rigidamente estabelecidas. Como saímos com uma meta de criar um boletim bimestral, esperemos então que artigos, sugestões de eventos, realizações feitas pelos núcleos e mesmo poesias, contos, trabalhos fotográficos, entre muitas outras possibilidades de contribuições, cheguem para que ele seja de fato editado.

Um grupo de pessoas também ficou incumbido de auxiliar, com um texto bem didático, a quem ainda não esteja conseguindo utilizar a informática. Afinal, fica difícil pensar em rede nacional de conspiradores sem a tecnologia. Isso porque, não poucas vezes, o debate se enveredou para a importância dos conspiradores se tornarem realmente uma rede nacional de troca de experiências, disparadora de temas a serem discutidos, questionados, enfim, que continuemos a nos encontrar virtualmente e a saber quem é quem e o que faz.

Nesse contexto, a defesa foi pela organização de núcleos ampliados de RCs, a partir de temas de interesse. Outros, por sua vez, colocaram a importância do fortalecimento dos núcleos regionais e dos projetos locais. No entanto, não havia discordâncias de fundo e as duas propostas se complementaram. A própria atuação local de cada núcleo parece seguir nessas duas direções. Retomando ao início desse artigo, só o tempo dirá para onde iremos e o que faremos. O que ficou foi a vontade de partir para o desenvolvimento de projetos, de intervir, cada núcleo a seu modo, em escolas ou instituições com um objetivo que nos une: mudar a educação. Até foi falado sobre a possibilidade de angariar verbas para financiar capacitações e outras ações dos grupos. Muitos que já estão atuando, como os educadores do Pequeno Príncipe, abriram ainda as suas portas para compartilhar experiências e trocar idéias. Cada núcleo, portanto, ficou de procurar se vincular com escolas, de acordo com sua realidade local. Ficamos de buscar também uma articulação junto a universidades e outras instituições da área educacional para poder disseminar nossas idéias, práticas e desejos.

Antes desse debate final, o nome Românticos Conspiradores foi colocado em discussão. Alguns colocaram que ele não ajuda a conseguir verbas; outros que devemos assumir a nossa postura crítica a começar pelo próprio nome. Enfim, prós e contras surgiram quanto a continuarmos ou não com ele. Chegamos a um consenso de que o nome é esse mesmo, mas que permaneceríamos abertos a novas propostas.

Este “artigo-relato” foi feito com as contribuições da Helena Singer (Politeia) e do Cláudio (Pequeno Príncipe), que nos enviaram as suas anotações. Fica aí a dica para que outros mandem suas anotações, como foi proposto inclusive, e novos relatos surjam. Nesse sentido, como já enfatizado no início, este relatório não feito a partir de uma ata oficial. Ela sequer existe. Portanto, é bom frisar, ele está sujeito a interpretações equivocadas que podem ser reparadas por quem assim desejar.


Esperamos – e isso é o mais importante – que o debate sobre a atuação local e a global, ou seja, entre o fortalecimento dos núcleos regionais e a criação de uma rede nacional, se transforme em um só projeto com muitas variações. Que cada núcleo consiga atuar, sempre levando em consideração sua realidade, sendo tais ações locais e outras nacionais, não importa. O importante é que, quando por ventura se tornarem realidade, sejam debatidas nacionalmente, em um intercâmbio constante entre núcleos e pessoas. Que não haja tensão entre o local e o global, entre teoria e prática, pois não dá para pensar e mudar o mundo – e a si mesmo – sem considerar essas duas realidades.
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* "[...] eu vou perturbar algumas escolas [em Belo Horizonte], sem fundamentalismos! Lá nessas escolas, não vai ser a repetição da [Escola da] Ponte. Eu quero que a Ponte morra! Não quero mais nada com a Ponte, eu quero fazer pontes! Que a Ponte morra para mim, mas evolua. Ela vai continuar, felizmente, com todas as contradições em que está imersa. Com todos os problemas que eu deixei lá [...]", transcrição do trecho da fala do Pacheco.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

1º Encontro Nacional da Rede RC


Vídeo-resumo do 1º Encontro Nacional da Rede RC pela transformação da educação, que ocorreu nos dias 14 e 15 de Março/2009, na EMEI Gabriel Prestes, em São Paulo/SP.